O GEMIDO DOS REMIDOS

26/07/2010 20:40

O Gemido dos Remidos (Rm 8.17-27)      

 

 

O GEMIDO DOS REMIDOS

(Pr. Davi Merkh; mensagem transcrita por Fabiana França Aguiar) 

Diante das dificuldades da vida, os cristãos têm se perguntado: porque a caminhada é tão dura? Porque nós sofremos tanto se somos guiados pelo Espírito Santo? Respostas para esse dilema têm surgido sem base na Palavra de Deus, originando teologias fajutas que pregam prosperidade terrena e superficial.  

Lemos em Romanos 8.17-18, “ora se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com Ele sofremos, também com Ele seremos glorificados. Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós”. Nnão há dúvidas de que os cristãos sofrerão, mas que também serão abençoados com consolação posterior. Nos versículos seguintes a esse trecho, o princípio evidenciado é que tais sofrimentos atingem tudo e todos que vivem neste mundo, que, conforme a Bíblia deixa claro, jaz no maligno (1 Jo 5.19). 

Quando há uma verdadeira conversão, a pessoa não fica isenta, vacinada ou é colocada dentro de uma redoma com proteção total. Pelo contrário, ela é exposta aos mesmos sofrimentos de um mundo que jaz no maligno, mas tendo a garantia que terminarão em glória.  

Em Rm 8.19-27, pode-se observar três tipos de gemidos: da criação, do cristão e do Espírito Santo. O enfoque da primeira delas não direciona para adoração à natureza, o que muitos têm feito, mas o texto responderá algumas das perguntas da nossa alma, dando uma cosmovisão de uma verdadeira ecoteologia.  

A criação geme: Uma “Eco-teologia Crist㔓A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus. Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora” (Rm 8.19-22) 

Diante de tantos desastres naturais e da maneira como eles têm impactado a vida das pessoas, muitos grupos estão cada vez mais preocupados, fazendo protestos, campanhas, tornando-se quase adoradores dessa terra. Apesar desta também ser uma preocupação do cristão, entendemos que a única maneira de salvar o planeta, se é que isso deve ser nosso alvo, é salvando o ser humano. No entanto, a preocupação atual está focada apenas nos efeitos do pecado que nos atingem e não na causa deles.  

No plano original de Deus, pode-se dizer que essas catástrofes não estavam incluídas, mas elas  fazem parte das conseqüências do pecado e de como ele afeta toda a terra que jaz no maligno. Só que não é preciso olhar para a natureza a fim de descobrir que o mundo geme, basta uma sondagem em nossos próprios corações.  

Atualmente, há muitas pessoas adorando a terra, falando de ecologia em todos os momentos, defendendo reciclagem, salvando baleias e tantas outras coisas. E, no mesmo contexto também, percebe-se uma exaltação exagerada da natureza, enquanto há um verdadeiro menosprezo por Deus e pelo ser humano.  

O interessante é que mesmo havendo essa crescente preocupação, muitos nunca refletiram sobre as responsabilidades bíblicas diante da criação, que pede para vivermos de acordo com Cristo. O ser humano é irresponsável, porque é egoísta, não pensa na pessoa que virá depois, que usufruirá daquele parque, daquela montanha, daquele lugar tão lindo, e joga lixo, tratando com menosprezo o que Deus criou para o bem de todos. É importante saber que a vida de Cristo é “outrocêntrica”, ou seja, que pensa naquela pessoa que vem depois.  

Esse texto, porém, tem o intuito de esclarecer três perguntas levantadas por ele próprio:  1)   Como era a criação antes da queda?  

Como nunca vimos o mundo criado por Deus antes do pecado, apenas enxergamos o reflexo da glória Dele, que só são vestígios do plano inicial.  

No versículo 20, lemos que a criação está sujeita à vaidade, ou em outras traduções, inutilidade, só que não voluntariamente, mas por causa daquele que a criou. Vale perceber que a palavra vaidade traz a idéia de futilidade, algo que é incapaz de atingir o propósito pelo qual foi feito e quando o autor utiliza não voluntariamente, ele quer dizer não por sua própria vontade que tudo isso aconteceu.  

Existem duas opções para explicar o que isso significa: 1) ou se refere a Deus, que como punição do nosso pecado castigou a criação, no sentido crime-condenação, já que nos rebelamos contra Deus, teremos de comer do fruto da terra que está rebelada contra nós. Deus operou uma forma graciosa para nos lembrar todos os dias, que estamos em um mundo que jaz no maligno, que geme, que não funciona do jeito que Deus quis. 2) a outra possibilidade é que “aquele” que a sujeitou, somos nós mesmos. Nós que estragamos tudo por causa do nosso pecado no paraíso.  

No versículo 22, vemos que toda a criação a um só tempo geme e suporta angústias, por causa do pecado, que estragou o que fora perfeito. E o texto mostra que o nosso destino, a história da raça, está intimamente ligado ao da criação. Mesmo diante deste cenário, é importante refletirmos sobre uma perspectiva equilibrada sobre essa terra e reconhecemos que Deus fez o mundo para proclamar a sua própria glória (Sl 19.1). Esse céu que vemos todas as manhãs proclamam por meio das suas mais variadas manifestações de criatividade o brilho celeste da glória do nosso Deus. A medida, porém, que o pecado afeta essa terra, a percepção da glória de Deus fica diminuída.  

Uma ecoteologia equilibrada diz que Deus deu uma tarefa para o casal dentro do paraíso: de cuidar, cultivar, sujeitar e dominar essa terra, o que se pode chamar de um mandato cultural. Em Gênesis 2.15, percebe-se que, logo depois que Deus criou o homem, Ele ordenou que Adão cuidasse desta terra. O mais fascinante é que essas duas palavras cultivar e guardar são usadas nos primeiros cinco livros do AT para descrever o cuidado do próprio tabernáculo. Ressoando, portanto, a idéia de uma obra espiritual, que significa ser um bom mordomo da glória de Deus, refletida na criação.  

Em Gn 1.28, Deus abençoou o casal, disse para serem fecundos e encherem a terra, sujeitando-a, dominando sobre os peixes do mar, as aves do céu e todo animal que rasteja pela terra. Nós nos tornamos vice-regentes depois que Deus descansou do seu trabalho. Passamos a governar essa terra com nossas invenções, descobertas científicas e nós glorificamos a Deus por meio disso, subjugando, dominando, cuidando, guardando, cultivando. O ser humano reflete a glória de Deus quando trabalha bem o que Deus deu como vocação e não somente como uma profissão.  

Em Gn 3, no entanto, o homem pecou e estragou tudo e a tragédia atinge a todos. “Abriram-se, então, os olhos de ambos e percebendo que estavam nus, cozeram folhas de figueiras e fizeram cintas para si” (v.7), neste trecho, percebe-se que o casal usou plantas para se cobrirem em um ato religioso vazio, usando a natureza para cobrir seu pecado. Logo em seguida, aprendem que só Deus pode fazer isso por meio do derramamento de sangue, pois Ele teve de matar dois bichos para vesti-los, fazendo com que a morte invadisse a história, piorando ainda mais a situação.  

Depois da queda, o pecado aumenta e a terra geme ainda mais. Os próximos capítulos de Gênesis mostram que a terra estava corrompida à vista de Deus e cheia de violência. Então, disse Deus a Noé: resolvi dar cabo de toda carne, porque a terra está cheia da maldade dos homens; eis que os farei perecer juntamente com a terra, comprovando, mais uma vez, que os dois destinos estão intimamente ligados.  

Com o dilúvio, Deus lava a terra para um novo começo e promove uma grande mudança, tendo, porém, o pecado ainda dentro do coração do ser humano. Em Gn 9.2-3, registra-se que todos os animais terão pavor e medo do homem e que tudo o que se move sobre a terra e todos os peixes do mar serão entregues nas nossas mãos. 

Sobre essa transformação no comportamento animal, alguns cientistas recentemente descobriram que ao neutralizarem seu hipotálamo, o animal perde todo o medo. Parece, portanto, que a partir daquele momento, Deus fez uma mutação, uma transformação. Não se vê bichos entrando na arca de Noé de bom grado, mas fugindo do homem, porque nós somos maus, explicando o porquê dos bichos morderem.  

2)   O que acontece hoje com a criação à luz do pecado do homem?  

Desastres naturais cada vez maiores. No versículo 22, vemos que ocorrem duas coisas: a criação geme e anseia pela redenção. Esse cenário ilustra a nossa realidade, pois gememos, mas também ansiamos o lar, o mundo que Deus tencionou para nós. A palavra geme utilizada traz um significado muito forte, pois sugere a idéia de ficar pressionado, preso a uma situação, desesperado, não ter saída. E o mundo não tem saída até a redenção da criação do novo céu e da nova terra. É a angústia, aquele grito primal, que sai de dentro da própria criação: “não é para ser assim! Liberte-nos!”.   

Por causa do pecado, o ser humano tem transformado a terra em um verdadeiro lixão. Tantas são as notícias de regiões sendo devastadas, grandes concentrações de lixo, extinção de animais, entre outros problemas causado pela irresponsabilidade do homem.  

E devido a essa sujeira deixada por causa do egoísmo do coração, cada lugar fica um pouco mais sujo do que antes. O próprio monte Everest, por exemplo, recebe diversas expedições para retirar toneladas de lixo acumuladas. Ficar preocupado com isso, no entanto, não se trata de pensar ecologicamente, mas é uma questão do coração, de uma conversão de todas as áreas da vida.  

Mas não tem de ser assim, pois tudo isso ocorre por causa do nosso pecado. Jesus gemia diante dessas coisas, mas gemia não é a palavra original, e sim uma palavra que carrega a mesma idéia que João quis passar quando Jesus estava diante do túmulo de Lázaro: Ele sabia que o ressuscitaria, mas Jesus treme dentro de si. Ao ver Marta e os vários judeus que o acompanhavam chorar, agitou-se no espírito e comoveu-se, Jesus chorou. 

Outro aspecto vale ser observado: a criação não somente geme, mas a criação anseia o dia da redenção. O versículo 19 diz que a ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus. Essa palavra ardente expectativa tem a idéia literal de colocar o pescoço para fora. É o que se pode dizer por desejo, ansiedade, angústia, esperar por alguém chegar. A criação está fazendo isso, ela está querendo ver a revelação dos filhos de Deus.  

O destino da natureza está totalmente ligado ao do ser humano e à história da redenção. Enquanto o homem estava na sua inocência, a terra era o paraíso. Quando o pecado entrou, houve nossa rebelião contra Deus, provocando a terra a se rebelar contra nós. O versículo 21, no entanto, traz a esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro, da escravidão, da corrupção, para liberdade da glória dos filhos de Deus. A criação só será resgatada, quando Deus separar definitivamente o joio do trigo, e os filhos de Deus serão manifestados, para, a partir deste momento, Deus começar do zero e redimir a terra.  

Diante destes aspectos, percebe-se que a chave desse texto não é a ecologia, nem beijar a terra ou fazer campanhas, mas sim viver a vida de Cristo em nós. Uma vida que tenha visão do alto, que entende que Deus quer que a terra espelhe a Sua glória. Quando em Gálatas, Paulo diz estar crucificado com Cristo, já não sendo ele quem vive, mas Cristo vivendo nele, entende-se que a única esperança para a natureza é a transformação do coração do homem. Caso não haja uma verdadeira conversão do pecador egoísta, será impossível transformar o meio ambiente.  

Reciclar lixo, fazer campanhas, todas essas práticas talvez tenham o seu lugar, pois alguns podem fazer isso como vocação, mas não deve ser a primeira preocupação do cristão, pois não adianta. O homem é egoísta em todos os sentidos e se ele quer jogar lixo pra fora da janela, ele joga, mas o cristão tem de ser diferente. O ideal é que os cristãos tenham consciência de não desperdiçar os recursos que Deus nos deu como uma maneira de glorificar a Ele. Por isso, apagamos as luzes, economizamos a gasolina, não desperdiçamos a água com 30 minutos de banho. E tudo isso não é para salvarmos o planeta, mas porque pensamos naquele que vem depois de nós e para não estragar essa terra linda que Deus nos deu. 

Para sermos bons mordomos do meio ambiente, devemos ser transformados intimamente e sermos transformadores. O segredo da ecologia cristã é salvar gente, é ensinar pessoas com a exposição da Palavra de Deus, pois ela modifica o coração e nos torna ecológicos no sentido bíblico, com equilíbrio. Além disso, viver a vida de Cristo é ter uma vida educada, sempre procurando o bem do outro, daqueles que virão depois de nós, sempre pensando: como o que eu faço afetará outras pessoas?  

Em vez de estragarmos a terra, nós podemos ser conscientes com os recursos disponíveis, recolhendo o lixo que outros deixaram, economizando água, entre outras práticas.  

3) O que acontecerá com tudo isso que nós vemos? 

Como nós estragamos essa terra, ela geme e anseia, mas um dia todo esse sofrimento terminará em glória, tanto para o cristão, como para a criação. Um dia, Deus refará tudo isso. O texto de II Pedro diz que o Senhor virá como ladrão, no qual os céus passarão com intrepitoso estrondo, elementos se desfarão abrasados, também a terra e as obras que nela existem serão atingidas. Por isso nós não adoramos a terra, nem bens materiais, visto que tudo há de ser desfeito. Apocalipse 21 diz que existirão um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram e o mar já não existe, a morte já não existirá, não haverá luto, nem pranto, nem dor, por que as primeiras coisas passaram, nunca mais haverá qualquer maldição.  

O cristão geme

O ser humano tem uma inquietação plantada por Deus, que almeja o seu verdadeiro lar, pois apesar de termos perdido o paraíso, outro nos aguarda. Dificuldades financeiras, familiares, conflitos entre amigos, namorados, problemas crônicos com saúde, zombaria na escola, no serviço, no bairro e até mesmo problemas na igreja. Nós gememos em nós mesmos, mas não era para ser assim.  

Deus coloca dentro de nós um anseio pelo além, pela verdadeira razão pela qual fomos colocados aqui, e Ele utiliza esse anseio para não nos permitir ficar satisfeitos com esse mundo. A própria morte é reflexo disso, pois ela nos acorda, já que esse não é nosso destino final. E nós gememos, nos entristecemos, mas não como aqueles que não têm esperança.  

Como já foi observado, Romanos 8.19-27 trata de três tipos de gemido, o primeiro deles é o da criação e, logo em seguida, fala sobre o gemido do cristão, que reconhece que algo está errado com o mundo: ele não está como deveria.  O mundo todo geme, nós gritamos em nós mesmos: até quando Deus? Pessoas podem estar com problemas familiares ou em seu relacionamento conjugal, preocupações com sua saúde, falta de habilidade para lidar com a velhice que está batendo na porta, enfim, dificuldades crônicas, que não conseguem supera e Deus não tira. E você geme dentro de si mesmo: até quando Senhor? 

Esse não é o mundo que Deus criou para nós. Os diversos noticiários nos mostram que de fato o planeta não funciona do jeito que Ele queria que funcionasse, onde tem poluição, destruição em massa da natureza, a morte que nos cerca, a angústia, o gemido quando estamos diante de um parente querido que está sendo enterrado.  

Pedro fala em sua primeira carta: “amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós destinado a provar-vos. Como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo. Pelo contrário, alegrai-vos na medida em que vós sois co-participantes dos sofrimentos de Cristo, para que também na revelação de sua glória, os alegreis, exultando. Se pelo nome de Cristo sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus”. Isso significa que teremos sofrimento e depois glória, mas muitos hoje querem glória e só, mas a realidade é que nós ainda estamos em um mundo que jaz no maligno, por isso, sujeitos aos mesmos sofrimentos. 

Observando o contexto de Romanos 8, o versículo 18 diz “tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não são para se comparar com a glória por vir, a ser revelada em nós”, que se trata de uma esperança maravilhosa, que não se compara com a leve e momentânea tribulação. Setenta e oitenta anos de sofrimento à luz de trilhões de anos, não é nada, apesar de hoje parecer muita coisa.  

Nós gememos, porque o sofrimento é real e clamamos: até quando Senhor? E Ele responde: espere só mais um pouco, Eu estou com vocês, sinto a sua angústia. Pensando nestas aflições, que são temporárias, a criação aguarda ansiosamente a revelação dos filhos de Deus, porque seu destino está intimamente entrelaçado com o dos remidos. O versículo 20 diz que a criação ficou sujeita à inutilidade, futilidade, vaidade; não por sua vontade ou culpa, mas por causa daquele que a sujeitou, o que reflete a esperança da sua libertação do cativeiro da degeneração para a liberdade da glória dos filhos de Deus.  

Quantos de nós não temos colocado diante do Senhor em oração um pai ou uma mãe idosos, em uma situação difícil, um irmão da igreja na UTI sofrendo muito? Qual deve ser a nossa oração? Quando observamos uma situação dessas de longe é diferente de quando é sua mãe, seu pai, seu amigo. Como orar, então? Nesta hora, sai de nós um grito, às vezes, silencioso, mas desesperado. É o caso de um pai com um filho adolescente que não quer mais nada com Deus, ou que se despede de um filho que faleceu antes da hora, estes conhecem bem esse grito. O versículo 23 confirma isso: “e não somente ela, a criação, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo”. 

O paraíso do Senhor foi atingido pelo nosso pecado e nós nos atolamos na lama dele, que afetou toda a ecologia, fazendo a terra gemer cada vez mais. A esperança, no entanto, se encontra no versículo 21: a própria criação e a raça humana serão redimidas do cativeiro da corrupção, da violência, do crime, da poluição, de extinção de animais e do nosso sofrimento, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. 

Jesus disse: no mundo, passais por aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo. O gemido do remido vai até o final da sua vida. No capítulo 12 de Eclesiastes, observa-se o gemido daquele que é mais avançado em idade, que, por meio de figuras e expressões, mostra as pessoas que estão enfrentando seus últimos anos da terra e estão sentido o gemido enquanto os dias se arrastam na cama. “Lembra-te do teu criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias e cheguem os anos em que dirás: não tenho neles prazer; antes que se escureça o sol, a lua e as estrelas do esplendor da sua vida [os olhos não enxergarem tão bem], e tornem a vir as nuvens depois do aguaceiro; no dia em que tremerem os guardas da casa, os teus braços, e se curvarem os homens outrora fortes, as suas pernas que também e cessarem os seus moedores da boca, por já serem poucos [os dentes] e se escurecerem teus olhos nas janelas, e os teus lábios, quais portas das ruas se fecharem; no dia em que não puderem falar em alta voz [ela vai diminuindo sua força], te levantares à voz das aves, e todas as harmonias, filhas da música, te diminuírem [não ouvem tão bem]; como também quando temeres o que é alto [escadas, lugares mais altos], e te espantares do caminho e te embranquecerem, como quando floresce a amendoeira, e o gafanhoto lhe for um peso, e te perecer o apetite; porque vais à casa eterna e os pranteadores andem rodeando pela praça, antes que se rompa o fio da prata e se despedace o copo de ouro, e se quebre o cântaro junto à fonte, que desfaça a roda junto ao poço e o pó volte à terra como era e o espírito volte a Deus, que o deu”.  

Essa é a realidade do ser humano conforme os anos vão passando; gemidos na área da saúde, devido à própria velhice. No entanto, nós também gememos por causa do nosso pecado. Paulo falou em Romanos 7.24 “miserável homem que eu sou”, pois estamos em constante luta contra nós mesmos, contra o mundo, contra o diabo, e contra o pecado do mundo que jaz no maligno. 

Diante deste cenário, entende-se que gememos porque sabemos no nosso íntimo que a realidade não é como devia e que tem mais a nossa espera, pois só experimentamos as primícias, os primeiros frutos do espírito, conforme o próprio texto deixa claro. Isso significa que temos na nossa boca o sabor do eterno e por isso, Deus vai nos desmamando desta terra, para nos preparar para nosso novo nascimento na eternidade.  

O Espírito Santo se entristece e o geme, e gememos com Ele. Em Efésios diz: não entristeçais o Espírito Santo de Deus no qual fostes selados para o dia da redenção.  Ele anseia um dia melhor para todos nós e é nossa garantia, como se fosse um penhor, que nos atesta que seremos glorificados. Ele que habita em nós, sabe o que nos aguarda, mas Ele vê a miséria que estamos e se entristece com isso, e vai nos cutucando: gente, tem algo melhor para vocês!  

Nos versículos 24 e 25, encontramos a esperança do cristão, que é uma garantia para os remidos: “porque na esperança fomos salvos, ora esperança que se vê, não é esperança, pois se alguém vê, como espera?”. Portanto, a natureza da nossa vida na terra é viver no escuro e ter a certeza da luz, mas não uma esperança fajuta, e sim uma certeza absoluta, que ainda não foi concretizada, mas está garantida pelo Espírito que habita em nós, oferecendo essa convicção.  

O Espírito Santo geme 

Já foram abordados dois tipos de gemidos, o da criação e o do cristão, mas o final do trecho estudado - versículos 26 e 27 – traz que o próprio Espírito Santo de Deus geme conosco: “também, o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza, porque não sabemos orar há como convém, nem isso nós conseguimos. Mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexpremíveis [ou melhor, não falados]”.  

Depois de aceitar Cristo como salvador, o próprio Espírito Santo tem seu nome em sua lista de oração, pois Ele intercede por nós, nos assiste e apóia. Em Romanos 8, percebe-se que esse é o último trabalho do Espírito Santo que encontramos: o Espírito habita em nós, nos limpa, nos lava progressivamente, nos guia, confirma que somos filhos de Deus, enfim, Ele é a nossa testemunha da certidão do novo nascimento.  

Como são, porém, esses gemidos do Espírito? Nós já entendemos que os gemidos são os que nos assistem, ou seja, Ele fica ao nosso lado, socorrendo-nos em nossas fraquezas, pois sabe o que nós carecemos. Interessante é que o texto mostra como somos ignorantes, pois gememos por não saber o que Deus quer nessa situação e achamos que não agüentamos mais. Somos tão fracos, que nem sabemos como orar. Eu passei por isso em minha adolescência, por causa de situações dificílimas na minha casa. Algumas pessoas têm passado por isso em seu casamento. Pais têm chorado pela vida e conversão dos seus filhos. E nós não sabemos como orar em muitas dessas situações, mas é nesta hora que o Espírito Santo age.  

Ele nos ajuda até mesmo articulando o que nós devemos pedir a Deus, por que Ele sabe qual é o objetivo que Deus tem para a nossa vida. Para isso, devemos pedir por sabedoria para as provações, Tiago deixa claro que se alguém necessita de sabedoria para lidar com provações, peça a Deus que a todos dá liberalmente, literalmente a idéia do texto é peça ao “dando Deus”.  

Ele quer que você peça ajuda, converse com Ele, mas no momento em que não souber por que orar e nem como, o Espírito Santo fará isso por meio de gemidos inexprimíveis (v.26). Esses gemidos não se tratam de dons de línguas, como muitos afirmam, mas a palavra “inexprimíveis” literalmente significa não faladas, inaudíveis, não ouvidas, o Espírito não precisa articular com vogais e consoantes, porque Ele e o Pai estão em sintonia total, mas é uma angústia, é um grito mudo do próprio Espírito de Deus a nosso favor.  

No momento em que não entendemos e ajoelhamos, o Espírito Santo expressa o que agrada ao Pai. São comunicações inaudíveis entre a própria santa trindade, da qual nós não participamos. Não somos nós falando “bla, bla, bla”, é o Espírito Santo diante do Pai, com quem tem íntima comunhão. 

É maravilhoso ver no versículo 27 que esse gemido do Espírito é por saber o que nos aguarda e por entender o que Deus quer fazer em nós nas provações. Deus entende tudo isso, por isso essas orações sempre são atendidas. Aquele que sonda os corações sabe qual é a mente do Espírito, porque segundo a vontade de Deus é que Ele intercede pelos santos. Os dois estão totalmente sintonizados, tem o mesmo objetivo. E qual é esse objetivo? O desejo de Deus e a mente do Espírito é que eu e você sejamos mais parecidos com Cristo Jesus. O Espírito Santo é a talhadeira que está trabalhando para colocar em prática este processo, utilizando a Palavra e circunstâncias difíceis para cunhar a imagem de Cristo em nós. Deus sabe que temos necessidade de sermos mais parecidos com Jesus: todas as coisas cooperam para o bem de sermos a imagem de Jesus.  

E a nossa esperança é que apesar de termos estudado em Romanos 8 três tipos de gemidos: da criação, que será redimida; do cristão, que será redimido; e do Espírito Santo de Deus, que representa o redentor, um dia o gemido dos remidos será transformado em glória para o redentor, porque nós seremos como Ele, refletindo sua glória perfeitamente para todo sempre e sem gemido algum.

(Publicado com autorização).

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